Pr. Carlos Eduardo

Pr. Carlos Eduardo

terça-feira, 6 de abril de 2010

Pecado sem perdão

UM PECADO SEM PERDÃO
Hoje (estes dias) saí de casa, fui até a Universidade, fui ofendido e voltei embora. Após, fui fazer minhas reflexões sobre o episódio e veja no que deu.
Não é uma reflexão acadêmica, filosófica ou digna de qualquer crítica ou sequer atenção. Aliás, se você não tem tempo a perder pare de ler aqui e vá fazer o que tem a fazer.
Fui convidado a estar na PUCPR para ouvir uma palestra sobre “a idéia de Deus em Hegel”. O palestrante, apresentado como o mais novo, mais jovem (29 anos), professor da Universidade Alemã de Bonn. Sabidamente um mérito indescritível já que tão somente para atingir-se os requisitos necessários para lecionar naquela Universidade, por méritos, dificilmente alguém chega lá antes dos 55 anos.
A palestra estava digna, genial, o palestrante fazia jus aos elogios que houvera recebido. Trabalhava de forma aprofundada a idéia de deus em Hegel, fazendo o contraponto entre um deus que morreu em Nietszche e um deus que morreu em Hegel.
Em Nietszche (segundo o palestrante), a afirmação de que Deus morreu está ligada a uma crítica a religião que trata de um deus puramente transcendente, é puramente uma crítica a religião e uma negação da existência de um deus segundo a transcendência (não só isto, mas não vem ao caso). Em Hegel, segundo o palestrante, a afirmação também feita de que deus morreu, não tem o escopo de criticar tão somente a religião, mas de trazer a idéia de deus para o terreno das reflexões. Não se trata de negar a existência de deus, mas de afirmar que a idéia de deus é uma manifestação das manifestações humanas. Neste sentido, deus não deixaria de existir, antes existiria no espírito da comunidade. Obviamente que não dá para explicar aqui, nem tenho esta intenção. Como já disse não é uma reflexão filosófica ou acadêmica.
Mas voltando aos fatos, à narrativa, ainda incumbe dizer que o palestrante afirmou diversas coisas, dentre elas que para ele, a escatologia kantiana é um “inferno” na medida em que o palestrante considera um inferno a “eterna busca da moralização” pregada por Kant.
Qual não foi minha surpresa, quando lá pelas tantas, o doutor, digno dos maiores elogios, afirma: - “Prefiro o catolicismo, o catolicismo é mais bonito. O protestantismo é uma ... (nem me lembro a palavra pejorativa que ele usou). Comércio, mercado, etc...” Fiquei estupefato. Num ambiente acadêmico, um pequeno gênio fala uma besteira destas. Se eu não fosse correr o risco de também ser ignorante eu diria que a palestra alternou entre a genialidade e a imbecilidade.
Acalmei meu coração quando o condutor da palestra, um professor da maior grandeza e que admiro muito, ao final desta e elegantemente, sem deixar passar em branco informou ao palestrante que naquele ambiente não havia somente católicos (ainda que uma Universidade Católica e digna dos maiores elogios), mas também protestantes.
Continuo agora minhas reflexões e concluo que: - se aquele palestrante falou esta bobagem para abrir portas numa Universidade Católica, ele agiu de modo indigno de sua genialidade. Ele já estava palestrando na Universidade, as portas já lhe haviam sido abertas. Ele não precisava mais disto. Ele é o professor de uma grande Universidade na Alemanha. Indignidade da própria genialidade.
Agora se ele falou aquela besteira porque ele pensa desta forma mesmo, não somente para abrir as portas, mas falou com sinceridade, pior ainda. Então ele é um preconceituoso (preconceito religioso que também demonstra ignorância de quem mora no berço do protestantismo) e ainda mais indigno de qualquer espécie de elogio e da posição que ocupa. Cometeu um lapso ético-moral incabível em qualquer lugar, muito menos em ambiente acadêmico. Atitude assim, sem correr o risco de ser injusto, é no mínimo ridícula.
Reflito ainda. O palestrante além de crime (crime contra a liberdade de crença, culto e organização religiosa – crime de preconceito) cometeu um pecado imperdoável mesmo sem ter blasfemado contra o Espírito Santo que é o pecado imperdoável sob uma ótica teológica objetivo-simplista.
Se considerarmos Deus como puramente transcendente e o palestrante parece não acreditar neste deus, então será impossível o perdão deste pecado na medida em que diante da negativa da existência jamais haverá arrependimento, e sem arrependimento não pode haver perdão. Se Deus não existe para o palestrante então ele não pode perdoar.
Se considerarmos deus como puramente imanente, no sentido hegeliano, ele será uma manifestação da manifestação, uma expressão de possibilidade na comunidade. Como manifestação da manifestação, não há a possibilidade de que ela ofereça condições de perdão na medida em que manifestação de manifestação, conceito puro, não perdoa.
Neste prisma, o palestrante está mesmo condenado ao inferno. Seja condenado ao inferno transcendente, um lago de fogo, onde o bicho homem nunca morre. Seja ao inferno kantiano, conforme a própria afirmação do palestrante, de eternamente buscar moralizar-se, desenvolver-se eticamente, o que bem deveria fazer.
Final do episódio voltei para minha casa, não quero incomodar-me mais, não me acovardo na medida em que escrevo o que sinto. Prefiro oferecer aquilo que mais merecem os preconceituosos ou ignorantes: minha oração para que Deus lhes perdoe, seguida do meu silêncio de indignação.
Se ignorar é preciso, ignore você também o que escrevi, mas não ignore a indignidade de nossa própria genialidade. Sejamos dignos dela, se a tivermos. E se não tivermos a genialidade mas lutarmos para sermos dignos dela, já teremos sido verdadeiros gênios.

Pr. Carlos Eduardo Neres Lourenço

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom o texto,mas notei que o querido Pastor esquece de escrever "Deus" em letra maiscula.