Pr. Carlos Eduardo

Pr. Carlos Eduardo

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Um pouquinho de Filosofia - Russerl e os problemas da filosofia

OS PROBLEMAS DA FILOSOFIA

O mundo está cheio de conhecimentos que são considerados conhecidos pela humanidade. A filosofia busca responder as respostas ocultas nesse saberes, pois mesmo nas respostas mais claras e seguras podem surgir os obstáculos. A filosofia vai encontrar respostas críticas examinando tudo intrinsecamente e não cairá em falas populares.
Pode-se ter um objeto que aos olhos de alguma pessoa é visto de um determinado jeito, porém este mesmo objeto visto por outra pessoa pode ter características diferentes. Isso dependerá de diversos fatores, inclusive, a concepção da existência deste objeto para as pessoas que o estão observando. É claro que a observação dependerá de diversos fatores, como: luminosidade, posição, distância e percepção entre outros. Assim, cada um pode olhar o mesmo objeto e ter definido características diferentes, como exemplo, pode-se dizer que nenhuma das pessoas verá exatamente a mesma distribuição de cores, porque nenhuma delas pode vê-la exatamente do mesmo ponto de vista, e qualquer mudança de ponto de vista produz uma mudança na forma como a luz é refletida.
Os sentidos do ser humano estão diretamente ligados às sensações e percepções, como as cores, sons, cheiros, a dureza, a aspereza, etc., quando se vê algo se sabe que aquilo está ali, e tem a sensação da cor e dos outros componentes do objeto, porém a cor é mais um dado das características desse objeto. Para ter a sensação é preciso ter tido a experiência, pois assim tem a consciência do que está ali. É preciso que se tenha consciência da cor através de aprendizagem, alguém deverá relacionar o nome da cor com sua verdadeira cor, assim a pessoa será capaz de dizer aquela cor sempre que a ver.
Tudo o que pode ser pensado é uma idéia na mente da pessoa que está pensando, somente as idéias podem ser pensadas, qualquer outra coisa é inconcebível, e o que é inconcebível não pode existir. Tudo o que existe e tocamos diretamente pode ser somente aparência, supondo que exista outra realidade atrás desta simples forma de ver. Mas se o que se vê é apenas aparência, como saber a verdadeira realidade?
São questões difíceis de saber, mesmo as mais estranhas hipóteses ficam em situações de desconforto prá dizer se são verdadeiras ou não, o que se pode dizer a respeito é que tudo que se vê pode ser que não seja o que parece.
Segundo Russel, a filosofia, se não pode responder a todas as perguntas como se deseja que responda, tem pelo menos o poder de propor questões que tornam o mundo muito mais interessante e revelam o que há de estranho e maravilhoso por trás até mesmo das coisas mais vulgares da vida cotidiana.
Para que se esteja seguro da existência de um objeto físico, além dos dados dos sentidos, é preciso saber se o mesmo objeto é desejado ou visto com as mesmas características por diversas pessoas. É impossível afirmar que várias pessoas olhando de ângulos diferentes um objeto tenham a mesma visão. Os sentidos são privativos a cada pessoa, o que está imediatamente presente à vista de uma pessoa não está imediatamente presente à vista da outra; todas vêem as coisas de pontos de vista ligeiramente diferentes e, portanto, as vêem também ligeiramente diferentes.

Quando um ser humano fala – ou seja, quando ouvimos certos sons que associamos com certas idéias e vemos simultaneamente certos movimentos labiais e expressões faciais – é muito difícil supor que aquilo que ouvimos não seja a expressão de um pensamento, como sabemos que seria se emitíssemos nós mesmos os sons. Ocorrem, sem dúvida, casos idênticos nos sonhos, nos quais nos equivocamos ao acreditar na existência de outras pessoas. (RUSSEL, 1959).

Os sonhos existem nas mentes das pessoas como pensamentos, porém, pode-se argumentar que diante do sonho como fica o mundo externo, o que é real diante do sonho e o que se chama realidade. O mundo só continuará a existir com relação à percepção das pessoas. Todo o conhecimento baseia-se em crenças instintivas, e que se estas são rejeitadas, nada permanece. Mas, entre as crenças instintivas umas são mais fortes do que outras e, muitas, pelo hábito e pela associação, envolveram-se a outras crenças que não são realmente instintivas, mas, que supõe-se, erroneamente, que fazem parte do que acreditamos ser instintivo.
As crenças instintivas só não são aceitas quando contradizem a outras, mas se existe harmonia não tem porque não serem aceitas. Essas crenças suas conseqüências, ao serem consideradas as mais aceitáveis, podem ser modificadas ou abandonadas, é comum aceitar dados referente àquilo em que se acredita, uma organização sistemática e ordenada do conhecimento adquirido. Com a organização sistemática, a probabilidade de erro diminui mediante as relações recíprocas das partes e conforme a criticidade da aceitação.

A maioria dos filósofos acredita, com razão ou não, que a filosofia pode fazer muito mais do que isso – que ela pode nos dar conhecimento, não acessível de outro modo, sobre o universo como um todo e sobre a natureza da realidade última. Se este é o caso ou não, a função mais modesta de que temos falado pode certamente ser realizada pela filosofia. E isto basta, com efeito, para os que começaram duvidando da adequação do senso comum, para justificar o trabalho árduo e difícil que os problemas filosóficos envolvem. (RUSSEL, 1959).

O mundo científico da matéria não apresenta as percepções que os olhos e o corpo humano percebem. É primordial para a ciência que a matéria esteja em um espaço, mas o espaço em que ela está não pode ser exatamente o espaço que vemos ou sentimos. O espaço da ciência, embora conectado com os espaços que vemos e sentimos, não é idêntico a eles, e as formas de suas conexões exigem uma investigação.
De acordo com RUSSEL, admiti-se que exista o espaço físico, e também uma correspondência deste com os espaços privados, e o que se pode saber sobre ele. Pode conhecer somente o que é preciso para assegurar a correspondência. Ou seja, nada se pode saber do que ele é em si mesmo, mas pode-se conhecer o tipo de arranjo dos objetos físicos que resulta de suas relações espaciais.
É possível saber diversas teorias, medir distâncias, resolver problemas, sem nunca ter tido a visão desses meios, assim, pode-se dizer que se tem o conhecimento direto e imediato sobre determinado assunto, ter a imaginação sobre esse real, sem ao menos ter vivenciado esse conhecimento. É como medir a distância entre a terra e o sol, sabe-se que pode ser feito, porém nunca foi vivenciado concretamente.
Alguns filósofos acreditam que tudo que é real deve ter algum sentido mental, que tudo que se conhece deve ter relação com o sentindo mental. Os idealistas dizem que o que aparece como matéria, é antes algo mental, são essas idéias na mente que percebem a matéria. Russel escreve que os idealistas negam a existência da matéria como algo intrinsecamente diferente da mente, embora eles não neguem que nossos dados dos sentidos sejam sinais de alguma coisa que existe independentemente de nossas sensações privadas.
As bases sobre as quais o idealismo é defendido são geralmente bases derivadas da teoria do conhecimento, ou seja, de uma discussão das condições que as coisas devem satisfazer a fim de que possamos ser capazes de conhecê-las.
Tendo o conhecimento direto de que algo existe esse conhecimento dirá que realmente esse algo existe. Para que se saiba se algo determinado exista é preciso que alguém já tenha o conhecimento direto da coisa. Para Russel, o que ocorre, nos casos em que se fala num juízo verdadeiro sem ter conhecimento direto, é que a coisa é conhecida por descrição, e que, em virtude de algum princípio geral, a existência de algo que satisfaz esta descrição pode ser inferida da existência de algo do qual tenho conhecimento direto.
O princípio da indução não é o único que possui estas características, baseada na experiência. Existem vários outros princípios que não podem ser provados ou refutados por meio da experiência, mas são usados em argumentos que partem do que é experimentado. Alguns dos princípios têm maiores evidência que o princípio da indução, mas os dois têm a mesma certeza da existência dos dados dos sentidos; eles constituem os meios de fazer inferências a partir do que é dado na sensação. Os princípios de inferência são suscetíveis de serem negligenciados por causa de sua própria obviedade, a suposição que envolve é aceita sem que compreenda que se trata de uma suposição. Mas é muito importante compreender o uso dos princípios de inferência para obter uma correta teoria do conhecimento; pois o conhecimento da inferência suscita interessantes e difíceis problemas.
Três princípios foram selecionados, sem razão verdadeiramente, pela tradição com o nome de “Leis do Pensamento”, são eles, segundo Russel, a lei de identidade: “Tudo o que é, é”, a lei de contradição: “Nada pode, ao mesmo tempo, ser e não ser” e a lei do terceiro excluído: “Tudo deve ser ou não ser”. Estas leis mostram o principio lógico; evidentes entre si, mas não são os mais importantes, pois existem outros princípios similares. De acordo com Russel, a denominação “lei do pensamento” é também imprecisa, pois o que é importante não é o fato, mas sim que quando se pensa de acordo com as leis, existe assim, o pensamento de modo verdadeiro.
Uma das maiores controvérsias da história da filosofia é a controvérsia entre as duas escolas denominadas respectivamente, “empirista” e “racionalista”.
Os empiristas mantinham que, além do que conhecemos por meio da experiência, existem certas “idéias inatas” ou “princípios inatos”, que conhecemos independentemente da experiência. Os princípios lógicos já mencionados, não podem ser provados pela experiência, sendo que os racionalistas tinham razão neste ponto. É difícil de supor que os bebês nasçam sabendo tudo o que os homens sabem, portanto não é adequado empregar a palavra “inato” para conhecer os princípios lógicos, o termo “a priori” causa menos objeções. De acordo com os empiristas nada pode ser conhecido como existente a não ser por meio da experiência. Os racionalistas acreditam que, a partir da consideração geral em relação ao que deve ser eles poderiam deduzir a existência disto ou daquilo no mundo real; neste sentido parece que estavam equivocados. De acordo com Russel, o conhecimento é denominado de empírico quando se funda, completa ou parcialmente na experiência, todo conhecimento que afirma a existência é empírico, e o conhecimento exclusivamente a priori sobre a existência é hipotético; nos dá conexões entre as coisas que existem ou podem existir, mas não nos dá a existência real.
É possível perceber que existem proposições conhecidas a priori, e que entre estas estão as proposições da lógica e da matemática pura, assim como as proposições fundamentais da ética.
A denominação das “leis do pensamento” é natural, mas existem fortes razões para pensar que é errôneo. Assim, pode-se ter como exemplo a lei de contradição. Ela é comumente enunciada na forma, “Nada pode ao mesmo tempo ser e não ser”, com o que se quer expressar o fato de que nada pode, ao mesmo tempo, ter e não ter uma dada qualidade.

O verdadeiro mundo real, para Platão, é o mundo das idéias; pois tudo o que podemos tentar dizer sobre as coisas do mundo dos sentidos, se reduz a dizer que participam destas ou daquelas idéias, as quais, portanto, constituem toda sua peculiaridade. É fácil cair aqui num misticismo. Podemos ter esperança, numa iluminação mística, de ver as idéias como vemos os objetos dos sentidos; e podemos imaginar que as idéias existem no céu. Estes desdobramentos místicos são muito naturais, mas a teoria tem base lógica, e é como se baseando numa lógica que temos de considerá-la aqui. (RUSSEL, 1959).

A palavra universal pode ser empregada para exemplificar o que Platão quis dizer, a essência da espécie de entidade da qual Platão fala consiste em se opor às coisas particulares que nos são dadas na sensação. As palavras encontradas no dicionário são universais, apenas os filósofos estudam e se dão conta da condição das palavras como universais. O mundo dos universais pode também ser descrito como o mundo da essência. O mundo da essência é imutável, rígido, exato, encantador para o matemático, para o lógico, para o construtor de sistemas metafísicos, e para todos os que amam a perfeição mais que a vida.
Com relação ao conhecimento do homem, os universais, como os particulares podem ser divididos em conhecidos diretamente, por descrição e os que não são conhecidos de modo nenhum. A relação da qual se adquire um conhecimento direto seria pela semelhança, existe a relação entre os particulares e os universais. Pode-se dizer que todo o conhecimento a priori se refere exclusivamente às relações entre universais. Portanto, se acontece muito exemplo particular, a proposição geral pode ser formada por indução, e apenas depois se percebe a conexão entre os universais. Assim, todo o conhecimento de verdades depende de o conhecimento intuitivo.
Outras espécies de verdades evidentes são as que derivam da sensação, além dos princípios gerais, essas verdades estão ligadas a percepção e crenças. As verdades da percepção e alguns princípios da lógica têm o máximo grau de evidência. O princípio indutivo é menos evidente do que alguns outros princípios da lógica; assim existe um dualismo em relação ao conhecimento da verdade, pois pode-se acreditar tanto no falso como no verdadeiro. Assim, admiti-se que se não houvesse nenhuma crença não haveria falsidade e nem verdade, e ambas dependem de alguma coisa externa à própria crença. A falsidade e verdade dependem das relações das crenças com outras coisas, não de alguma qualidade interna das crenças.

Uma crença é verdadeira quando ela corresponde a um determinado complexo associado, e falsa quando não corresponde. Admitamos, para maior clareza, que os objetos da crença sejam dois termos e uma relação e que os termos sejam colocados numa certa ordem pelo “sentido” de acreditar. Então, se os dois termos naquela ordem são unidos num complexo pela relação, a crença é verdadeira; se não, ela é falsa. Esta é a definição da verdade e da falsidade que estávamos buscando. Julgar ou acreditar é uma determinada unidade complexa da qual a mente é um elemento constitutivo; se os demais elementos, tomados na ordem em que aparecem na crença, formam uma unidade complexa, então a crença é verdadeira; se não, é falsa. (RUSSEL, 1959).

Pode-se dizer que a verdade é evidente, no primeiro e mais absoluto sentido, quando se tem o conhecimento direto do fato que corresponde à verdade.
A característica essencial da filosofia, em virtude da qual ela é um estudo que se distingue do da ciência, é a crítica. Ela examina criticamente os princípios empregados na ciência e na vida cotidiana; procura descobrir as inconsistências que possam achar-se nestes princípios, e só os aceita quando, como resultado de uma investigação crítica, não aparece nenhuma razão para rejeitá-los. (RUSSEL, 1959).

A critica não é aquela que tenta rejeitar tudo, mas aquela que considera cada ponto do conhecimento aparente conforme os méritos e deixa margem para a continuidade do conhecimento. O conhecimento que a filosofia, tem em vista é aquela espécie de conhecimento que confere unidade e organização sistemática a todo o corpo do saber científico, bem como o que resulta de um exame crítico dos fundamentos das convicções, dos preconceitos, e das crenças. A filosofia também não pode dizer afirmativamente a verdade para as dúvidas, mas pode deixar possibilidades de ampliar os pensamentos. Russel diz que a contemplação filosófica, quando é pura, não visa provar que o restante do universo é semelhante ao homem.
A filosofia não dará respostas definitivas aos problemas levantados pelo homem, pois nenhuma resposta definitiva pode ser considerada verdadeira. A filosofia ampliará as concepções de acordo com o possível, enriquecendo a imaginação, e buscando a união da mente com o universo, que constitui o seu bem supremo.

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