Pr. Carlos Eduardo

Pr. Carlos Eduardo

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Entrevista para a Revista Jovem Cristão CPAD


Como pastor

1 – Hoje, as universidades estão lotadas por professores ateus. Em muitos casos, jovens crentes são de alguma forma confrontados ou constrangidos por estes mestres que chegam a ridicularizar o evangelho dentro das salas de aulas. Como o jovem cristão deve lidar com isso?

Resposta: A boa notícia é a de que isto já foi pior. O ambiente acadêmico já foi mais cético, e quando não mais cético muito mais combativo contra qualquer pensamento religioso, particularmente contra o cristianismo. A idéia de que o “a religião é o ópio do povo”, ou de que “a religião é estrutura de dominação”, já esteve mais presente no dia a dia acadêmico e de forma muito mais patente e agressiva. A menor agressividade hodierna não equivale a menor perigo, já que a nova forma de atuação é velada, cínica e muito mais enganadora. O jovem cristão, sob um aparente ambiente de cordialidade e respeito vai tendo sua fé dia a dia minada, suas convicções vão sendo “cientificamente” combatidas e muitas vezes quando se dá conta já está engodado. Nunca o texto bíblico que recomenda crescimento na “graça e no conhecimento” foi tão atual, necessário e aplicável como hoje. O jovem cristão não deve abrir mão primeiramente de uma vida poderosa em Deus. Se por um lado “cientistas” buscam explicar tudo pela “ciência”, por outro lado calam-se e fogem diante do inexplicável, diante do milagre, diante do sobrenatural que o poder de Deus na vida do jovem cristão pode demonstrar. Em segundo lugar o jovem cristão não deve abrir mão de ser um estudioso da palavra, aprofundar-se no conhecimento, buscar em Deus e no trabalho exegético e teológico árduo o conhecimento necessário para não ser combatido em seu próprio território. Em terceiro lugar, entendo que o jovem cristão deve ser atuante e combativo, não sem busca de conhecimento, tendo sempre noção clara e fazendo lembrar os “mestres” o que são “conceitos”, o que são “leis” e o que são meras “teorias” ainda carentes de comprovação que a própria ciência exige, isto será combater no território dos próprios ditos “mestres”.




2 – Como os jovens crentes devem agir quando são prejudicados/ perseguidos por professores ateus?

Resposta: A Constituição Federal em seu Art.3º afirma constituir um dos objetivos fundamentais da Republica Federativa do Brasil a promoção do bem de todos, sem preconceitos ou qualquer espécie de discriminação. Já o Art. 5º assegura os direitos pétreos à liberdade, igualdade, e outros. E particularmente no inciso VI do Art. 5º da Lei Maior do País, estão garantidos os direitos de liberdade de consciência, crença e culto. Estes direitos relacionados são invioláveis, e devem ser defendidos por nós cristãos. Não acredito numa atitude beligerante, não é assim que demonstramos o caráter de Cristo em nós, mas Deus também não nos deu um “espírito de covardia” que nos impeça de elegantemente, respeitosamente lembrarmos nossos “mestres” que perseguições por motivo de crença e/ou culto é desrespeito à Lei Mater de nossa nação. Não é desprezível inclusive termos próximo lembretes como o conteúdo do Art. 208 do Código Penal que assim afirma:
Art. 208. Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa.
Parágrafo único. Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.
Volto a dizer, não viemos ao mundo para sermos violentos como o mundo é, antes viemos para salvá-lo e que o nome de Cristo seja glorificado em nossas vidas. Por isto mesmo quando necessário o uso da firmeza e coragem na defesa de nossos direitos não devemos fazê-lo senão submetidos ao princípio inalienável do amor divino, então seremos bem sucedidos.


3 – Ao ingressar em uma universidade e serem bombardeados com teorias anticristãs, muitos jovens evangélicos perdem a identidade e alguns deixam de acreditar em Deus. Por que isso acontece? Como evitar?

Resposta: Tenho percebido seguidamente, até por trabalhar profissionalmente e ministerialmente com jovens, e não somente com estes, que a perda da identidade, o deixar de acreditar em Deus, via de regra estão estreitamente ligados a uma vida cristã sem experiências com Deus, não somente ao bombardeamento de informações antagônicas ao evangelho. Tenho assistido um aumento na liberdade particular de cada um de nossos irmãos inclusive na confissão de sua fé, mas proporcionalmente tenho assistido um menor desejo de experiências íntimas com Deus. Tenho verificado que o abundar das bênçãos de Deus em certas vidas tem proporcionalmente sido alvo de um espírito menos grato. As bênçãos de Deus muitas vezes são menos comemoradas, menos testemunhadas, menos valorizadas, até banalizadas como fruto de coincidências, acaso, ou tidas como algo “natural”. Tenho sempre aconselhado os jovens com quem trabalho, que devemos buscar mais experiências intimas, reais, palpáveis e indubitáveis com Deus. Uma vida de graça e conhecimento não é alheia a uma vida experiências pessoais com Deus, a manifestação dos sinais de Deus em nossas vidas devem fundamentar e provar nossa fé. E percebo então que aquelas pessoas que não abrem mão de viver estas experiências, não são levadas por ventos de doutrinas falsas, ensinamentos “meramente lógicos e/ou científicos”. Nestas pessoas intimas de Deus, o mundo não consegue facilmente o enfraquecimento, perda da identidade, e distanciamento do crer em Deus. Elas conhecem a Deus, a resposta está no “conhecer e prosseguir conhecendo Deus”, quem o conhece não o deixa por nada.



Como profissional
1- Um professor universitário pode combater religiões em sala de aula ou isso vai contra a Ética Profissional?

Resposta: Algumas profissões possuem um código de ética que também é uma Lei, apenas como exemplo verificamos a Lei 8.906 que também disciplina as atividades de um advogado e nela faz conter o Código de Ética Profissional deste operador do direito. Mas não são todas as profissões que estão assim regulamentadas. Mesmo que não encontremos uma Lei Específica que discipline e codifique o que seria a ética profissional de um professor universitário, a legislação educacional como um todo, a LDB e outras, não antagonizam à legislação que já trouxemos aqui em pergunta anterior. A legislação educacional imprime ao profissional da educação ainda maior responsabilidade no cumprimento da Constituição Federal, princípios constitucionais, e princípios legais de um modo geral. Faço este exposição para afirmar que quando um professor universitário decide-se por combater religiões e não respeita-las em sala de aula, não apenas está praticando uma transgressão ética, moral e subjetiva, mas está praticando uma transgressão ética objetiva, consubstanciada na transgressão da Lei e até em um crime devidamente tipificado na legislação pátria.


2- Como professor e pastor, o senhor tenta transmitir seus valores e sua visão a respeito de Deus aos alunos? Como faz para não os ferir ou constranger?

Resposta: Como professor estou subordinado à Lei para ser livre, como cristão tenho obrigação de brilhar como “luz do mundo”, e como Pastor devo ser exemplo em minhas atitudes. Isto não choca com a defesa dos valores que acredito, não impede a missão que Deus me confiou, mas exige de mim adoção de estratégias que não sejam antinômicas à afirmação primeira. Ministro aulas nas áreas do direito, da metodologia de pesquisa e de antropologia. Particularmente nesta última disciplina exige-se de mim exercício de sabedoria, mas Deus tem sido presente e tenho visto resultados interessantes. Normalmente opto por mostrar aos meus alunos todas as possíveis teorias sobre cada assunto que ministro, e não raro afirmo sem tentar convencê-los e sem constrangê-los ou feri-los, qual teoria sou adepto em função de coerência com minha fé e com os valores que sigo. Não é incomum, depois das aulas, acadêmicos me procurarem para discutirmos algum assunto e percebo em muitos vontade mesmo de ouvir-me discorrer sobre minha fé, o que faço prazerosamente. Penso que as palavras chave são sabedoria, respeito e conhecimento sobre aquilo que se fala.



3- Em algum momento, seus valores se confrontam com as matérias ensinadas por você? Como lida com isso?

Resposta: Sim, em muitos momentos as matérias às quais estou obrigado a ensinar confrontam-se com meus valores. Normalmente a solução não está no raso, mas em águas profundas e não raro ainda inexploradas. Conhecimentos superficiais não são o bastante para resolver estes conflitos, mas no aprofundamento sempre encontraremos a resposta. O buscar mais profundo sempre nos leva a um lugar onde entendemos que “n’Ele, por Ele, e para Ele todas as coisas foram criadas”. Aprofundar-se significa não conformar-se com respostas óbvias e fáceis, significa disposição para buscar conhecimento nas ciências, na Bíblia e sabedoria em Deus, Ele sempre nos mostra a solução. Não é possível ter preguiça, não é aceitável qualquer espécie de desânimo, não é permitido desistir, a solução vem da fusão entre nossos esforços e a sabedoria do alto.

4- Como é o seu relacionamento com professores ateus na universidade em que trabalha? Como você faz para se impor?

Resposta: Eu não teria dificuldades para me impor até em função de ser também o Diretor da Faculdade. (risos) Mas temos um ambiente amigo, democrático, respeitador e não temos dificuldades em convivermos com diversidade de pensamentos, penso que isto seja salutar e tenho visto que isto conquista a amizade e confiança de meus colegas profissionais. Repetidas vezes tenho o privilégio de recebê-los em eventos na Igreja sem problemas, com muito carinho a amizade e já tive o privilégio de orar por alguns em suas dificuldades, bem como de ver alguns aceitando a Cristo. Quando estes limites são rompidos e eventualmente algum colega acha-se apto a discutir este tipo de assunto o fazemos no mesmo nível acadêmico. Não raro concluímos que tanto o religioso quanto o cientista que defende uma teoria qualquer não conseguem afastar-se de um grande exercício do crer no por si desconhecido. E as experiências pessoais que transcendem o conhecimento e os meios de prova humana são o peso que desequilibra o fiel da balança em prol dos que crêem em Deus. Graça e busca do conhecimento, tanto das coisas de Deus quanto das ciências são elementos indispensáveis nesta luta diária.



Pr. Carlos Eduardo N. Lourenço

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